O cenário da odontologia no Brasil, mapeado por uma pesquisa setorial robusta, promovida pela ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos), que envolveu 2.979 respondentes, revela um mercado em plena transformação, caracterizado por alta atividade profissional, assimetrias regionais na confiança e uma rápida adoção do comércio eletrônico, contrastando com a adoção ainda gradual de tecnologias clínicas avançadas.
A estrutura do setor é marcada por um domínio do consultório generalista, que representa 53% do total. Essa característica é ainda mais pronunciada em São Paulo (59%), entre os dentistas com até 40 anos (67%) e nas profissionais mulheres (59%). Entre as disciplinas praticadas, a odontologia conservadora é a mais comum, declarada por 91% da amostra, seguida de perto pela estética (86%). É notável que a prevalência de ambas as disciplinas aumenta significativamente em consultórios de maior porte — aqueles com pelo menos três cadeiras, dois dentistas ou que atendem mais de 35 pacientes por semana.
A atividade semanal nos consultórios é intensa, com uma média de 36,7 pacientes atendidos por semana. Este volume é crucial para entender a dinâmica financeira do setor, especialmente a relação com convênios odontológicos. Aproximadamente 35% dos dentistas colaboram com seguros odontológicos (percentual que chega a 39% entre as mulheres). A diferença no volume de pacientes é gritante: consultórios conveniados atendem em média quase 44 pacientes por semana, enquanto os não conveniados ficam em 33,5.
O Índice de Confiança e as Assimetrias Regionais
Apesar da alta atividade, a percepção geral dos dentistas sobre o mercado atual resulta em um índice global de confiança ligeiramente negativo, igual a -7%. Contudo, uma análise mais detalhada demonstra que a visão sobre as expectativas futuras é significativamente mais positiva e otimista do que a percepção das tendências recentes.
O perfil de confiança está diretamente ligado a fatores geográficos e etários. Os perfis mais otimistas são encontrados nas regiões Norte e Centro-Oeste, entre dentistas com menos de 40 anos e em clínicas mais recentes (abertas após 2018). Essa positividade é argumentada pela menor incidência de estresse competitivo nessas áreas. Em contrapartida, a desconfiança é mais evidente no Sudeste e em São Paulo, entre dentistas com mais de 50 anos e em consultórios mais antigos (abertos antes de 2007).
Digitalização e o Forte Abraço ao E-commerce
No quesito abastecimento e compras, o Brasil se destaca pela intensa digitalização da cadeia de suprimentos. Quase 70% dos dentistas brasileiros declaram utilizar frequentemente o e-commerce para a compra de produtos odontológicos. Para esses usuários, o canal online responde por 66% das suas compras. Esse hábito está ligado ao alto valor médio mensal de compra de materiais, que é de R$ 2.653, e que é maior em consultórios de alta produtividade (com mais de 35 pacientes semanais ou pelo menos duas cadeiras).
No entanto, quando se trata de tecnologia clínica, o cenário de adoção é mais lento, mas com um potencial explosivo. A posse de scanner intraoral (IOS) ainda é baixa, em 15% da amostra. Ao contrário de tendências em outros países, a adoção do scanner no Brasil é mais influenciada pelo tamanho e nível de atividade do consultório (número de pacientes e cadeiras) do que pela idade do profissional.
O que impulsiona o mercado digital de equipamentos é a intenção de compra: 25% dos dentistas manifestam-se como potenciais compradores de um scanner intraoral dentro de um ano. A intenção é particularmente alta entre os dentistas mais jovens, mesmo que estes geralmente possuam menos recursos financeiros.
Apesar do entusiasmo pelo scanner, o mercado de impressões ainda é dominado por métodos tradicionais: apenas 8% das impressões realizadas são em formato digital, enquanto 68% utilizam elastômeros. Um dado argumentativo crucial revela uma possível insatisfação com a tecnologia atual: quase 60% dos dentistas que possuem e utilizam pouco o scanner afirmam que continuarão a usar materiais para impressões de precisão, indicando que a tecnologia digital ainda não substituiu totalmente a confiança nos métodos tradicionais para todos os casos.
O Crescimento da Especialização e a Harmonização Orofacial
O setor não apenas se mantém com disciplinas tradicionais, como a odontologia conservadora (91%), mas também demonstra uma forte tendência de especialização. Mais de dois terços da amostra afirmam oferecer tratamentos implantológicos em suas clínicas, sendo que a média de implantes realizados por esses profissionais no último ano foi de 42,5. Essa prática de implantologia e a realização de regeneração óssea (praticada por 65% dos entrevistados) estão positivamente correlacionadas com o tamanho e o nível de atividade da clínica.
Na ortodontia, o método tradicional continua soberano. Quase a totalidade dos dentistas que praticam ortodontia (97%) utiliza a técnica tradicional, que representa 82% dos casos realizados. A ortodontia invisível, embora praticada por pouco mais da metade da amostra, ainda tem um peso menor no volume total de casos.
Olhando para as novas fronteiras, a Harmonização Orofacial (HOF) emerge como um vetor de expansão. Embora seja a disciplina menos praticada dentro dos consultórios (por pouco mais de um terço da amostra), 80% dos profissionais são favoráveis à inclusão de tratamentos de medicina estética em consultórios dentários. Desses, 41% defendem a integração desses tratamentos com os odontológicos, e 39% acreditam que podem ser oferecidos separadamente. A disseminação da HOF também está positivamente correlacionada com o tamanho do consultório.
Em termos de equipamentos, a média de cadeiras é de 2,0. Tecnologias de radiologia mais avançadas, como a radiologia panorâmica, são possuídas por apenas 6% da amostra, mas a intenção de compra de radiologia panorâmica digital 3D é alta em consultórios maiores e mais recentes. A intenção de compra de outras tecnologias digitais, como impressoras 3D, também é fortíssima, especialmente entre aqueles que planejam adquirir um scanner, sinalizando um setor com alto potencial de expansão tecnológica.
Olhando para os dados da Odontologia:
Em conclusão, o mercado odontológico brasileiro se mantém sólido e em crescimento, apoiado na base generalista e na gestão eficiente de convênios. As macro-tendências indicam uma clara polarização, onde a confiança e o investimento em tecnologia e especialização florescem entre os profissionais mais jovens e em clínicas maiores localizadas em áreas de menor saturação, desenhando um futuro onde a digitalização e os procedimentos estéticos avançados devem ganhar relevância significativa nos próximos anos.
Fontes:
ANÁLISE DA DEMANDA DE SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS NO BRASIL, ABIMO, Setembro 2024.
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