Fibromas na Cavidade Oral: Características, Diagnóstico e Tratamento
Por Amanda de Souza
Os fibromas são as lesões benignas mais comuns na cavidade oral, resultantes de uma proliferação excessiva de tecido conjuntivo fibroso em resposta a traumas repetitivos ou irritação crônica. Essas lesões, também conhecidas como fibromas traumáticos ou fibromas de irritação, não apresentam potencial maligno, mas podem causar desconforto estético ou funcional dependendo de sua localização e tamanho. Neste artigo, abordaremos as principais características clínicas e histológicas dos fibromas orais, os métodos de diagnóstico e as opções de tratamento, além de destacar a importância da prevenção e do acompanhamento profissional.
Definição e Classificação
Um fibroma oral é definido como uma hiperplasia reativa do tecido conjuntivo. Apesar do termo «fibroma» frequentemente sugerir uma neoplasia verdadeira, a maioria dessas lesões na cavidade oral é de natureza reativa, sendo mais apropriadamente classificadas como pseudotumores. Os fibromas podem ser classificados em:
- Fibromas traumáticos ou de irritação – causados por trauma crônico, como mordidas acidentais ou o atrito de próteses mal ajustadas.
- Fibromas verdadeiros – menos comuns, consistindo em neoplasias benignas do tecido fibroso sem estímulos traumáticos associados.
Outras lesões fibrosas semelhantes, como granulomas piogênicos e hiperplasias fibrosas inflamatórias, podem ser confundidas com fibromas devido a suas características clínicas semelhantes.
Epidemiologia e Etiologia
Os fibromas orais podem ocorrer em indivíduos de todas as idades, embora sejam mais frequentes em adultos de meia-idade. Não há predileção significativa por gênero, embora algumas publicações sugiram uma ligeira prevalência em mulheres.
A etiologia principal está associada ao trauma repetitivo ou irritação crônica, como:
- Mordidas repetitivas na bochecha ou lábios;
- Irritação por restaurações dentárias mal adaptadas;
- Trauma causado por aparelhos ortodônticos ou próteses dentárias;
- Presença de cálculo dentário ou má higiene oral.
A localização mais comum dos fibromas na cavidade oral inclui a mucosa jugal (bochechas), borda lateral da língua, gengiva e lábios.
Características Clínicas
Os fibromas geralmente apresentam-se como nódulos pequenos, bem delimitados, firmes e móveis. As características clínicas mais comuns incluem:
- Cor: semelhante à mucosa oral adjacente, podendo ser mais clara ou levemente esbranquiçada devido a uma camada de queratina.
- Tamanho: variam de alguns milímetros a cerca de 2 cm de diâmetro. Lesões maiores são raras, mas possíveis.
- Consistência: firme ao toque, com superfície lisa.
- Sintomas: em geral, os fibromas são assintomáticos, mas podem causar desconforto quando localizados em áreas sujeitas a trauma constante, como a língua ou o palato.
Nos casos em que o fibroma cresce significativamente, pode causar problemas funcionais, como dificuldade na fala, mastigação ou uso de próteses dentárias.
Diagnóstico
O diagnóstico de fibromas na cavidade oral é baseado em uma combinação de exame clínico, histórico do paciente e análise histopatológica.
1. Exame clínico:
- O cirurgião-dentista ou o estomatologista observa a localização, forma, coloração e consistência da lesão.
- Histórico de trauma local ou irritação é frequentemente relatado pelos pacientes.
2. Diagnóstico diferencial:
- É importante diferenciar os fibromas de outras lesões benignas, como granulomas piogênicos, lipomas, neurofibromas e hiperplasias inflamatórias.
- Lesões malignas, como carcinoma de células escamosas, também devem ser excluídas, especialmente em casos de ulceração ou crescimento acelerado.
3. Biópsia e exame histopatológico:
- O diagnóstico definitivo é feito através de biópsia excisional, seguida por análise histopatológica.
- O fibroma apresenta tecido conjuntivo denso e colagenizado, com poucas ou nenhuma célula inflamatória.
Tratamento
A remoção cirúrgica é o tratamento de escolha para fibromas orais. O procedimento é geralmente simples e realizado sob anestesia local, com excelente prognóstico.
1. Excisão cirúrgica:
- O fibroma é removido em sua totalidade, garantindo margens livres de lesão.
- A recidiva é rara, desde que o fator causal (como trauma ou irritação) seja eliminado.
2. Terapias alternativas:
- Em alguns casos, o laser pode ser utilizado para remoção do fibroma, oferecendo menor sangramento e tempo de cicatrização reduzido.
3. Cuidados pós-operatórios:
- Orientações para higiene oral adequada e acompanhamento regular são essenciais para prevenir recidivas.
- Caso o fibroma esteja relacionado a próteses dentárias mal ajustadas ou aparelhos ortodônticos, esses dispositivos devem ser corrigidos.
Prevenção
Embora os fibromas sejam benignos, sua ocorrência pode ser evitada na maioria dos casos por meio de medidas preventivas:
- Evitar hábitos como morder a bochecha ou lábios;
- Garantir que restaurações e próteses dentárias estejam bem ajustadas;
- Manter uma boa higiene oral para evitar irritações crônicas;
- Consultar regularmente o dentista para identificação precoce de lesões e orientação.
Prognóstico
Os fibromas orais têm um excelente prognóstico. Após a remoção cirúrgica, é raro que a lesão volte a aparecer, desde que a fonte de irritação ou trauma seja eliminada. No entanto, é importante que o paciente seja monitorado regularmente para evitar novas lesões ou complicações.
Considerações Finais
Os fibromas orais são lesões benignas comuns, mas que podem impactar a qualidade de vida do paciente dependendo de sua localização e tamanho. O diagnóstico precoce, realizado por um profissional capacitado, e o tratamento adequado são essenciais para garantir o sucesso terapêutico e prevenir recidivas. Além disso, a eliminação de fatores irritantes e o incentivo à manutenção de hábitos saudáveis desempenham um papel crucial na prevenção dessas lesões.
Os cirurgiões-dentistas e estomatologistas têm um papel fundamental na educação e orientação dos pacientes, contribuindo para a identificação precoce e o manejo correto dessas condições.
Referências Bibliográficas
1. Neville, B. W., Damm, D. D., Allen, C. M., & Chi, A. C. (2015). Oral and Maxillofacial Pathology. 4ª edição. St. Louis: Elsevier.
2. Regezi, J. A., Sciubba, J. J., & Jordan, R. C. (2016). Oral Pathology: Clinical Pathologic Correlations. 7ª edição. St. Louis: Elsevier.
3. Abreu, L. G., et al. (2018). «Prevalence of Oral Soft Tissue Lesions Diagnosed in a Brazilian Population: A 10-Year Study.» Brazilian Oral Research, 32(e115).
4. Effiom, O. A., et al. (2011). «Odontogenic Tumors and Allied Lesions in Nigeria: A Multicenter Study.» Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology, 111(6), 757–762.
5. Chi, A. C., Day, T. A., & Neville, B. W. (2017). «Oral Mucosal Lesions in Adults: Evaluation and Differential Diagnosis.» Mayo Clinic Proceedings, 92(6), 940–954
ODONTOLOGIA NEWs
Odontologia News tem como principal objetivo oferecer um conteúdo rico sobre o universo odontológico para os profissionais, pensando também nos pacientes e no público em geral.
Nossos artigos apresentam atualidades e dicas preciosas sobre tecnologia, inovação e gestão para seu consultório. Fique atento ao nosso blog para manter-se sempre bem-informado.
