em terra de robô, dentista curioso é rei!
Por Victor Hugo Ribeiro
No cenário atual, onde a Inteligência Artificial está transformando as profissões, muitos dentistas se sentem ameaçados e temerosos. O receio de serem substituídos pelas máquinas tem tirado o sono de muito colega. Previsões “mirabolantes” têm assustado ainda mais, quando dão conta de que “até o ano tal, x profissões deixarão de existir” ou “profissional y será substituído pelo robô”. Porém, convido você a refletir um pouco com este artigo e, enquanto isso, posso garantir (pelo menos no meu ponto de vista) que a IA não vai substituir ninguém, e que muito do que você lê ou escuta não faz o menor sentido (embora você aceite como verdade).
O que faz um profissional se diferenciar no mercado? A sua formação? O seu cargo? Eu tenho uma tese: a inquietude e a curiosidade são duas coisas que me diferenciam da maioria. Eu sou dentista de formação e produzo conteúdo sobre estratégia, liderança, empreendedorismo e inovação, coisa que poucos colegas fazem. E eu não sou mais inteligente que eles, não tenho título de doutorado ou mestrado e nem nasci em “berço de ouro”. Simplesmente busquei aprender coisas novas e descobri um novo mundo com base nas minhas curiosidades e inquietudes. Nunca esperei que alguém viesse me falar desses temas, fui lá, pesquisei, testei, acertei e errei, mas, acima de tudo, aprendi.
O grande problema é que com o advento da internet e, principalmente das redes sociais, nós estamos perdendo a capacidade de questionar as coisas. Talvez pelo excesso de informação nas redes, tem ficado mais fácil seguir o ponto de vista da maioria e isso tem nos deixado sempre na zona de conforto e cada vez menos curiosos. Acompanho discussões nas redes sociais de temas polêmicos na odontologia, tais como: teleodontologia, ensino EAD, Inteligência Artificial e outros, e vejo muito colega revoltado, dando opinião sem ter o menor conhecimento da causa. Simplesmente porque a maioria é contra, o colega passa a ser contra também. É o efeito manada. A zona de conforto nos faz pensar que sabemos tudo e ter aversão à mudança, enquanto quando deixamos de ser curiosos, aceitamos as coisas como elas são, sem nos questionarmos pelo “por que” são assim. Estamos perdendo a nossa amplitude vocabular (conhece a turma do “tipo assim”?), perdendo a capacidade de refletir sobre as coisas e perdendo nosso senso crítico. Tudo isso tem nos distanciado cada vez mais da realidade do mercado de trabalho que se apresenta.
Em tempos de tecnologias exponenciais como a Inteligência Artificial, a chave para sobreviver e prosperar no mercado de trabalho da odontologia, é abraçar a nossa curiosidade nata e ampliar nosso vocabulário e repertório. Sabe por quê? Porque plataformas de IA generativa, por exemplo, dependem fundamentalmente da qualidade e da especificidade das perguntas e informações que lhes fazemos. Para extrair o máximo dessas ferramentas, precisamos saber como formular uma boa pergunta e detalhar o conteúdo que esperamos receber. Isso requer uma ampla gama de soft skills e uma abordagem de desenvolvimento profissional em formato transversal, que a maioria de nós dentistas não temos. Sem repertório e amplitude vocabular, usar o ChatGPT não vai servir de nada e você só vai se decepcionar. Mas, nesse caso, a culpa é da tecnologia ou é nossa?
Bem, também não precisam se assustar. O colega aqui, humildemente, vem trazer algumas dicas para você virar o jogo. Não tenho a pretensão de ser o “sabe tudo”, nem de ensinar a ninguém. São dicas baseadas na minha experiência de vida. Se fizer sentido para vocês está ótimo, se não fizer, está tudo bem também.
Dica 1: Rompa com as crenças do passado.
Não podemos olhar para o presente com os óculos do passado. O mundo está mudando rapidamente, e pensar na odontologia como há 10, 20 ou 30 anos só vai nos deixar fora do mercado. O que funcionou naquele tempo, não funciona mais hoje. Aceite a mudança, esteja aberto ao novo e permita-se ver o potencial transformador da IA em sua carreira. Olhe sempre pelo lado positivo. Não adianta esperar uma falha da tecnologia para dizer: viu, eu não falei! Assim você só vai perder seu tempo, e quando a tecnologia tiver que chegar, vai chegar, ainda que você não aceite. Permita-se ao menos experimentar antes de formar a sua opinião com base no que ouve e lê. Quando ver 99% dos colegas “revoltados” com alguma nova tecnologia que, na opinião deles, vai prostituir a odontologia, desconfie! Normalmente é resultado do efeito manada. Eu tenho sempre a tendência a estar no lado oposto, apesar de quase sempre ser a minoria da minoria.
“Quem não experimenta as lentes do futuro, enxerga o presente com os óculos do passado.” Victor Hugo Ribeiro.
Dica 2: Não se posicione como o “sabe tudo”. Seja um aprendiz ao longo da vida (Lifelong Learner).
Ter a humildade de admitir que não sabemos tudo e que nunca é tarde para aprender é a moeda de ouro do século XXI. O conceito de “terminar” a odontologia quando acaba a faculdade está obsoleto. Seja através de cursos online, workshops, podcasts ou livros, buscar conhecimento constantemente é essencial. Isso nos torna mais adaptáveis e preparados para as demandas em constante evolução do mercado de trabalho, inclusive as relacionadas à inteligência artificial. Chega de desculpas como falta de tempo, de dinheiro, de estímulo ou de qualquer outra coisa. Hoje tem informação de graça e a qualquer tempo na internet, por exemplo. E aos pessimistas de plantão que insistem em dar a desculpa de que a internet “só tem porcaria”, você está perdendo o seu tempo (de novo). Olhe pelo lado positivo: a internet tem informação de pouca e de muita qualidade, basta você selecionar o que fizer mais sentido para o seu aprendizado.
A propósito: 90% dos conteúdos que consumi sobre estratégia, liderança, empreendedorismo e inovação foram EaD. E a grande maioria gratuitos. Então, a desculpa de falta de tempo e de dinheiro não cola mais né?
“Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.” Alvin Toffler.
Dica 3: Valorize a criatividade e a imaginação.
Quando crianças, somos criativos e podemos imaginar coisas incríveis. À medida que o tempo passa vamos “emburrecendo”, perdendo a capacidade de imaginar e de criar. Mas são exatamente essas coisas que nos diferenciam da tecnologia. A inteligência artificial de inteligente não tem nada. Aliás, como diz o Dr. Nicolelis, a IA não é inteligência, visto que somente nós o somos, logo, também não é artificial. Inteligente somos nós que temos o dom de imaginar e de sermos criativos. A IA pode processar, analisar e até criar com base em dados, mas a imaginação e a criatividade são valências únicas do ser humano. A capacidade de pensar fora da caixa e de ser criativo é o que nos diferencia e nos torna insubstituíveis. Cultive a sua imaginação, pois ela é a fonte de toda inovação e é o que vai te diferenciar no mercado de trabalho.
“A criatividade é só conectar as coisas.” Steve Jobs.
Você dentista não será substituído(a) pela IA, mas poderá ser substituído(a) por um(a) dentista que esteja aproveitando o potencial da IA.
É vital compreender que a IA não veio para substituir os dentistas, mas para ser uma ferramenta que potencialize os dentistas. Os dentistas não serão substituídos pela IA, mas sim por outros dentistas que souberam integrar esta tecnologia ao seu repertório de habilidades. Então você não deve temer a tecnologia, você deve temer as consequências em não usar a tecnologia. Em uma era onde a informação é abundante, quem souber utilizar a IA a seu favor, explorando sua capacidade de ampliar o próprio conhecimento e criatividade, estará sempre na frente da maioria.
“Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade” Ayn Rand.
O exemplo da Kodak
A gigante Kodak perdeu sua posição de líder isolada no mercado para competidores que abraçaram a inovação disruptiva (fotografia digital), como a Canon, por exemplo. A resistência à mudança e a “miopia” de mercado com base no “nós somos líderes e sabemos tudo”, resultou na declaração de falência em 2012.
E você, vai ser o Dentista Kodak ou o Dentista Digital? De que lado você quer estar?
Este conteúdo visa inspirar colegas dentistas a ver a IA como uma aliada, não como uma ameaça. E aos que me perguntam por onde devem começar, eu sempre respondo: apenas comecem, experimentem e tirem as suas próprias conclusões.
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