Resinas Unicromáticas
Por Michele Aguiar Vivas
Na odontologia, observamos uma tendência crescente em simplificar a prática clínica por meio do desenvolvimento de novos materiais. Adesivos de passo único, resinas de baixa tensão de polimerização e cimentos autoadesivos são apenas alguns exemplos já integrados à rotina do cirurgião-dentista.
As resinas unicromáticas seguem essa mesma trajetória de simplificação para tornar o dia a dia do profissional mais fácil. Contudo, surge a questão: será que elas realmente cumprem o que prometem?
A escolha da cor da resina sempre foi um desafio, uma vez que as resinas cromáticas que seguem a escala Vita frequentemente não correspondem a ela, apresentando variações de cor conforme a marca comercial. Por esse motivo, a escala de Vita não deveria ser a principal ferramenta na seleção da cor da resina. Técnicas que envolvem a aplicação direta da resina sobre o dente, seja como um mock-up direto ou colocando uma pequena quantidade sobre o dente, são consideradas mais precisas.
No entanto, essas técnicas consomem tempo do(a) cirurgião-dentista e são extremamente dependentes da acuidade visual e treinamento dele(a), o que aumenta a chance de erros, tempo clínico e, consequentemente, os custos do procedimento e a perda de confiança por parte do paciente.
Neste cenário, as resinas unicromáticas surge como uma solução para esse problema, pois propõe mimetizar o substrato dental ou restaurador circundante, independentemente da cor, com apenas uma massa de resina. No entanto, seguindo as orientações dos fabricantes, alguns requisitos são indispensáveis para alcançar esse resultado, em especial:
1. a adesão eficiente da resina ao substrato a ser restaurado;
2. a fotoativação adequada do material restaurador;
3. o substrato com cor favorável para ser replicado, sendo necessário opacificar dentes com fundos pigmentados ou dentina esclerosada com resinas cromáticas ou pigmentos;
4. a quantidade suficiente de substrato circundante, pois em casos extensos, como grandes cavidades Classe IV, grandes diastemas ou aumentos incisais, pode ser necessário o uso de resinas cromáticas como “fundo” para evitar o acinzentamento.
Desde o lançamento da primeira resina unicromática em 2019, diversos estudos têm sido realizados para avaliar sua aplicabilidade clínica, limitações e eficácia. Embora um material com essa capacidade de mimetização reduza a necessidade de adquirir cores pouco utilizadas, minimize o risco de vencimento e reduza o desperdício no consultório, a literatura indica que cores mais escuras, acima de A3, tendem a não mimetizar tão bem quanto cores mais claras (bleach, A1, A2, C1…), corroborando com resultados clínicos observados (Figuras 1 e 2).
O destaque dessa categoria de resina está na possibilidade de a cor da restauração acompanhar o clareamento dental. Diferentemente das resinas convencionais, a resina unicromática reflete a cor clareada após o tratamento, eliminando a necessidade de substituição da restauração (Figuras 3, 4 e 5). Resultados clínicos interessantes têm sido observados, e a literatura começa a indicar a efetividade dessa propriedade.
É claro que uma categoria de material recente no mercado demanda mais pesquisas. Inquestionavelmente, esse tipo de compósito representa um avanço significativo na simplificação da escolha de cor, demonstrando mais uma vez que a tecnologia pode aprimorar a prática diária do Cirurgião-dentista, otimizando seu tempo clínico.
Em resumo, as resinas unicromáticas não são capazes de mimetizar todas as estruturas dentais, mas representam um avanço significativo ao facilitar os procedimentos clínicos em diversas situações rotineiras da prática clínica.
Figura 1: Lesão na região cervical do elemento 11. Imagem gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Rodrigo Reis
Figura 2: Restauração Classe V confeccionada com resina unicromática onde não houve mimetização do substrato. Imagem gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Rodrigo Reis
Figura 3: Região de “black space” entre os elementos 21 e 22, que traziam desconforto estético ao paciente.
Figura 4: Fechamento do espaço com resina Unicromática (Caso realizado no curso de Atualização em odontologia estética restauradora do Instituto R2. Fotos gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Rodrigo Reis).
Figura 5: Após 1 ano, houve a opção pelo clareamento dental e resina unicromática acompanhou a coloração do substrato.
referÊncias
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